Taís Bianca Gama
de Araújo, de 31 anos, carrega o título de primeira protagonista negra da
história da televisão brasileira. Aos 17 anos, ela aceitou o papel de Xica da
Silva, personagem título da trama de Walcyr Carrasco, apresentada pela extinta
TV Manchete em 1996. Na ocasião, a novela causou muita polêmica por exibir
Taís, ainda menor de idade, seminua – o erotismo era a principal arma da
produção para conseguir audiência. A repercussão do trabalho trouxe novos
desafios para a jovem. Em 2004, aos 26 anos, Taís viveria a primeira
protagonista negra de uma novela da TV Globo: Preta, de Da cor do pecado. Em seguida, viriam outros papéis de destaque nas tramas Cobras & Lagartos (2006) e A favorita (2008). O ponto alto da carreira,
porém, veio em 2009, quando Taís foi convidada por Manoel Carlos para
interpretar em Viver a vida (2009) Helena, personagem recorrente nas tramas do
autor. A atriz ganharia mais dois títulos: o de primeira Helena negra de Manoel
Carlos – antes dela, Lilian Lemertz, Maitê Proença, Regina Duarte, Vera Fischer
e Christiane Torloni haviam feito o papel – e o de primeira protagonista negra
de uma novela das oito da Globo. Em bate-papo por e-mail, Taís contou a ÉPOCA
que, se pudesse, dispensaria todos esses títulos. Segundo ela, eles revelam o
atraso e o preconceito existentes no Brasil. Leia a seguir outras declarações
da atriz.
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QUEM É
>> Taís Araújo nasceu em 25 de novembro de 1978 no Rio de Janeiro
O QUE FAZ
>> Atuou nas novelas Tocaia grande (1995) e Xica da Silva (1996), da TV Manchete, Da cor do pecado (2004), A favorita (2008) e Viver a vida (2009), da TV
Globo, dentre outros. Já recebeu vários prêmios por seus trabalhos
PROJETOS
>> Vai viver Xica da Silva novamente. Desta vez, no cinema.
Atualmente, ensaia a peça “Gimba, o presidente dos valentes”, de
Gianfrancesco Guarnieri, que será encenada na Festa Internacional de Teatro
de Angra dos Reis (FITA)
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ÉPOCA – Você ganhou projeção muito jovem no papel de Xica da Silva. Como
surgiu a oportunidade de fazer aquele papel?
Taís Araújo – Eu já trabalhava na Manchete, fazia Tocaia Grande, novela que atencedeu Xica da Silva. No final das gravações, o diretor Walter Avancini me convidou para fazer a personagem título de Xica da Silva.
ÉPOCA – Qual foi o maior desafio em Xica da Silva?
Taís – Eu pouco sabia da personagem. Fui convidada para participar da novela quatro dias antes das gravações começarem. Eu era uma atriz em início de carreira, ou seja, absolutamente inexperiente e tive de encarar, aos 17 anos, uma das personagens mais densas que já fiz.
ÉPOCA – O início da sua carreira foi uma época difícil?
Taís – Era muito mais difícil que hoje e infinitamente mais fácil do que quando Léa Garcia e Ruth de Souza (duas das mais importantes atrizes negras da dramaturgia brasileira) começaram a trabalhar.
ÉPOCA – Na história da televisão brasileira, você carrega o título de
primeira protagonista negra de uma telenovela e o de primeira Helena negra do
autor Manoel Carlos. Como enxerga esses títulos?
Taís – Minha carreira, desde o início, tem sido marcada por títulos como esses: primeira negra a ser protagonista de uma novela (Xica da Silva), primeira negra a ser protagonista na Globo (Da cor do pecado), primeira negra a apresentar um programa de beleza (Superbonita, do GNT), primeira negra a ser protagonista de uma novela das oito da Globo (Viver a vida). Acredito que tudo isso seja sorte, acompanhada de muito empenho, disciplina e dedicação. Ao mesmo tempo, dispensaria todos esses títulos que também mostram o preconceito e o atraso existentes no meu país, que tanto amo.
ÉPOCA – Você sofreu preconceito por ser negra ao longo da sua carreira?
Taís – Sim, todo negro sofre preconceito neste país, seja ele artista ou não.
ÉPOCA – Ainda há poucos atores negros nas novelas. Na sua opinião, por que
isso acontece?
Taís – Porque vivemos num país recheado de preconceito. Existem muitos atores negros no mercado, bons profissionais e muito bem preparados para enfrentar qualquer personagem.
ÉPOCA – Dos seus primeiros trabalhos na TV até o mais recente, a cada novo
papel que surgia, o que se tornou mais fácil e o que se tornou mais difícil ?
Taís – O meu caso, infelizmente, é exeção. Eu, Taís, não tenho o direito de reclamar de nada! Tenho tido a oportunidade de interpretar grandes personagens e trabalho numa empresa que acredita e investe em mim. Claro que hoje é muito mais fácil do que quando eu comecei a trabalhar. Acredito que tivemos grandes conquistas, mas ainda falta um longo caminho a ser percorrido. Dar personagens diversos para o negro fazer e não tratá-lo com estereótipos são as mudanças que eu espero que ocorram em breve.
ÉPOCA – Qual foi o papel mais difícil da sua carreira?
Taís – Poderia dizer que foi Xica da Silva por toda circunstância. Mas acho que Helena foi a que mais me desafiou e a que mais me ensinou.
ÉPOCA – Da sua estreia como Xica da Silva até a Preta, de Da cor do
pecado, você fez papéis menores. Como lidou com isso?
Taís – Na época, eu sofri muito, mas hoje vejo que não poderia ter sido diferente. Era uma adolescente que tive uma grande oportunidade, mas que estava em formação. Após Xica, seria uma loucura eu viver somente protagonistas ou grandes personagens. Esse período foi fundamental para a minha formação e meu amadurecimento.
ÉPOCA – Ao estrear em um papel de destaque na TV Globo, o que mais a
preocupava?
Taís – A preocupação que eu tenho ao fazer um grande papel é igual a que eu tenho quando vou fazer um papel menor, o que difere é a exposição que você tem com cada personagem. Fazer de maneira digna e da forma mais verdadeira possível todos os meus trabalhos é o que mais me preocupa.
ÉPOCA – Dizem que a telenovela está em crise no Brasil porque os índices de
audiência não são mais os mesmos de antigamente. Você concorda com isso?
Taís – Concordo, porque são números. Temos provas de que a audiência não é a mesma que tínhamos. Quando percebemos que o país tem melhorado economicamente, acho que isso é um caminho natural. Não podemos ignorar a importância que o computador ganhou na vida das pessoas. O brasileiro, porém, ama novela e vai amar sempre. Ela faz parte da nossa cultura.
ÉPOCA – Quais atores/atrizes servem de inspiração? Quais são seus ídolos?
Taís – Ruth de Souza e Léa Garcia, pela coragem e resistência; Milton Gonçalves, por sua genialidade e generosidade; Marília Pêra, pela técnica, disponibilidade e versatilidade; Arlete Salles e Aracy Balabanian, pelo controle, humor e por conseguirem transitar com tranquilidade entre a comédia e o drama; e Fernanda Montenegro, por ter conseguido construir carreira e família sólidas.
ÉPOCA – Qual papel você ainda espera fazer?
Taís – Tenho muitos papéis para interpretar: vilãs, personagens clássicas, personagens que exijam composição. Ainda não fiz quase nada que a profissão pode me oferecer!
ÉPOCA – Os remakes estão na moda. De qual remake você gostaria de
participar?
Taís – Nossa, são tantas as novelas que fizeram parte da minha infância e que eu gostaria de fazer… Sassaricando (1987), Cambalacho (1986), Vale tudo (1988), Roque Santeiro (1985), Gabriela (1975), Tieta (1989), Rainha da Sucata (1990)…
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