sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Taís Araújo entrevista Taís Araújo: a atriz que dá vida à oitava Helena de Manoel Carlos é também jornalista!

fernando louza

Acho que escolhi ser atriz e jornalista para poder falar do outro, tanto por meio dos personagens como pelas matérias que escrevo. São profissões que me permitem fugir da essência do que é a Taís Bianca Gama de Araújo, carioca do Méier, 30 anos, além de alertar sobre os problemas da sociedade e alimentar a minha pretensão de mudar o mundo. Mas acho que foi uma maneira que encontrei de sair do foco, de ocultar minhas angústias, meus medos. Foi por isso que fiquei com uma sensação estranha quando a Marie Claire pediu para escrever sobre mim.
Logo que recebi o convite, pensei: “Será que aceito? Sei falar de mim?”. Percebi que se negasse estaria fugindo de um dos meus maiores medos: me avaliar, me olhar com distanciamento e me julgar. Demorei alguns dias até tomar coragem, chegar na frente do computador e escrever: do que gosto? O que é fundamental pra mim? O que sonho? O que faria? Aonde quero chegar? Resolvi então me fazer perguntas, como numa entrevista real, como se não me conhecesse e não soubesse nada, sem pensar na exposição, sem limites.
Para ficar claro quem pergunta e quem responde para as leitoras, decidi chamar a repórter de TA (Taís Araújo) e a entrevistada de Ta (meu apelido).

TA Vamos começar pelo que seria o fim da entrevista. O que você espera da sua vida nos próximos anos?
Ta [Pausa e uma respiração profunda] Espero ter filhos, pelo menos dois. Quero ter filhos, acho que são os 30 anos, não acreditava quando ouvia as outras mulheres dizendo que quando eu fizesse 30 meus hormônios gritariam por filhos e bastou passar meu aniversário para esse desejo bater forte. Quanto ao lado profissional, quero partir para a segunda produção de uma peça, fazer cinema e continuar nas novelas. No fundo, só quero construir minha família e ter uma carreira mais estável.

TA Mas você tem uma carreira estável, são 16 anos! Quer mais ?
Ta Sim, quero mais, tenho minhas inseguranças. Quando você me fez a pergunta acima, projetei uma vida para daqui a cinco, seis anos. Seria lindo que tudo estivesse como descrevi. Quero fazer cinema, que é um meio em que desejo entrar e que ainda não me absorveu . Estaria fazendo teatro, que ainda não me sinto completamente à vontade, já que ele me desafia a cada espetáculo. Também não tenho certeza de que a TV — que amo fazer, sem a menor demagogia! — ainda vai me querer lá dentro. Viu quais são as minhas inseguranças quanto à profissão? O pior é que são todas possibilidades reais! Por isso dou a cada trabalho o melhor que eu consigo.

TA O que é fundamental na sua vida?

Ta Minha família: meus pais, minha irmã, meus sobrinhos, meus tios, meus primos e meu marido. Minha família é muito animada, unida e amorosa! Temos defeitos — como todas —, mas sabemos a importância que temos um para o outro. Eles me fortalecem e me enlouquecem. E é por isso que não consigo ficar sem.

TA Qual é a sua origem?
Ta Nasci em uma família de classe média. Meu pai é economista e minha mãe pedagoga. Nasci no Méier, um bairro da zona norte do Rio. E adoro dizer que sou de lá.

TA Por quê?
Ta Porque eu gosto da cultura da zona norte do Rio. Sinto saudade da pureza e da simplicidade genuínas do que vivi na minha infância. Saí de lá aos oito anos de idade. Eu tenho orgulho, amigos e ótimas lembranças do tempo que vivi lá. No dia de Cosme e Damião, por exemplo, eu e outras crianças percorríamos as casas pedindo balas. A festa de São João era nas ruas. Era uma delícia. Quando mudei para a Barra, não tinha nada disso.

TA Você tem religião?
Ta Fui batizada na Igreja Católica. Rezo todas as noites: Pai Nosso, Ave Maria, Salmo 91. Adoro Santa Terezinha. Mas sou brasileira, né? Sigo tudo. Sou filha de Oxum Apará [orixá dócil, vaidosa e guerreira] . E gosto de astrologia! Sou sagitariana com ascendente em gêmeos. Deve ser por isso que eu falo pelos cotovelos [risos] .


TA Sempre sonhou em ser atriz?
Ta Não. Quando eu era bem pequena, queria ser diplomata porque tenho facilidade para línguas. Depois, queria ser dentista. Adoro dentes! Aos 11 anos, entrei para um grupo de teatro amador e me encontrei. Foi aí que decidi que queria ser atriz.

TA É a primeira vez que uma atriz negra faz o papel principal de uma novela das nove [Viver a vida] . Como você analisa esse momento?
Ta Tem um ponto importante aí. Quando li a sinopse da novela, vi que uma atriz jovem poderia fazer aquele papel. Qualquer atriz jovem: de qualquer cor, de qualquer etnia. O Maneco [Manoel Carlos, autor de Viver a vida] não me escolheu porque sou negra. Ao contrário da Xica da Silva [Xica da Silva, Manchete, 1996] e da Preta [Da cor do pecado, Globo, 2004] , que só poderiam ser uma negra, a Helena só precisava ser jovem. E essa é a novidade, esse é o grande avanço. O Obama não ganhou a eleição porque é negro. Acho que discutir isso é retroceder esse avanço, que foi o Maneco e não eu quem deu. Insistir que viverei uma protagonista porque sou negra é diminuir meu trabalho, cara.

TA Mas é inegável que é um fato histórico, um papel de responsabilidade...
Ta É claro. É um trabalho que vai ter impacto na vida dos meus filhos. É gostoso, é bom. Mas não dependia só de mim, do meu talento. Aconteceu na hora certa.

TA As mulheres são mais mal pagas que os homens no mercado de trabalho. As negras são mais mal pagas. Isso aconteceu com você?
Ta Não sei quanto minhas colegas ganham. Mas no início eu ganhava pouco. Em Xica da Silva eu tinha só 17 anos... Mas com certeza o salário estava aquém do que eu fazia. Foi uma época difícil.

TA Difícil porque você ganhava pouco e trabalhava muito?
Ta O mais difícil foi lidar com a questão da nudez. Quando eu ia fazer 18 anos, começou uma campanha para a chegada do meu aniversário. Diziam: “Faltam tantos dias para ela posar nua”. E aquilo mexeu com a minha cabeça. Ficava me perguntando se tinham me colocado ali porque eu era apropriada para o papel ou por outros motivos. Eu estava escolhendo minha profissão quando tudo isso aconteceu. Não tinha vivência nem experiência para interpretar aquela personagem.

TA Entre Xica da Silva e Da cor do pecado, se passaram oito anos. Como foi para você ficar todo esse período fazendo personagens secundários?
Ta Sinceramente, foi uma época complicada. Achei que dificilmente faria uma outra protagonista. Hoje, reconheço a importância desse período para o meu crescimento. Foi fundamental para que eu amadurecesse e me preparasse, mas é o tipo de situação que só reconhecemos a importância com o passar do tempo, sabe?

TA Você sofria muito? E hoje, como lida com decepções e perdas?
Ta Espera que essa pergunta tem muitas respostas, vamos por partes... Eu sofri muito, chorava sem parar, pensei em desistir e prestar vestibular para odontologia, em morar fora do país. Mas meus pais foram sábios, em uma conversa de família decidimos que eu deveria fazer uma faculdade que não fosse relacionada a interpretação. Foi quando eu optei pelo jornalismo. Durante dois anos fiz jornalismo e teatro ao mesmo tempo.
O que me irrita é falta de respeito, comigo ou com o outro, saio do sério

TA E o resto da resposta? Como lida hoje com perdas, decepções?

 
Ta [Longa pausa] Bem, quando sofro, eu so-fro! Choro, me descabelo, vou ao fundo do poço. Espero o sofrimento abrandar dentro da minha casa, quietinha. Quando o coração acalma, eu refaço a maquiagem, me ocupo e rezo para o tempo levar a dor embora . Com perdas eu não sei lidar, mesmo! E com decepções… depende.

TA O que mais te dá medo?
Ta [Respira fundo] Bem, vamos lá! Posso enumerar? Não necessariamente em ordem de importância, ok? Altura, escuro (depende do dia), avião, perder as pessoas que amo, ficar sem trabalho, não construir uma família, solidão, pombos. Acho que não falta mais nada [risos] !

TA E o que te irrita?
Ta Falta de respeito! Nossa, meu sangue ferve se me sinto desrespeitada ou se presencio alguém faltando ao respeito com o outro, saio do sério mesmo.

TA Você e o Lázaro voltaram. Você é uma defensora do casamento?
Ta Sou defensora do amor!

TA Como é a relação de vocês? Como é a vida de dois atores casados?
Ta A gente pode pular essa parte?

TA Se voltaram, por que não falar?
Ta Porque é a parte da minha vida que merece ser preservada, simples assim.

TA Vamos então fazer um bate-bola?
Ta Sou péssima para bate-bola, nunca tenho
TA Amor?
Ta Família.

TA Qualidade?
Ta Bom humor.~

TA Defeito?
Ta Sou desesperada, medrosa.

TA Sonho de consumo?
Ta Não sei… Uma casa de praia ou na serra para as festas de família?

TA Numa ilha deserta iria com...
Ta [Risos] Sempre as mesmas perguntas? Ok. Levaria minha família, meu marido, meus amigos e a Alcione pra fazer um show pra gente

Fonte: m

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