Taís Araújo é bem mais frágil que as personagens que vem interpretando na TV
ultimamente. A atriz, que se diverte atualmente com as insanidades de sua
rebelde Alícia, em A Favorita, não tem idéia de onde tira a suposta força
que seus papéis carregam. Mas, talvez por
isso mesmo, esteja se dando tão bem com esse tipo de interpretação.

"Acho tudo hilário na Alícia. Essa distância entre mim e a personagem acaba
me deixando livre na atuação. Posso dizer que é uma delícia interpretar uma
pirada", conta, às gargalhadas, enquanto relembra cenas da novela.
Como as cenas dos primeiros capítulos, quando a jovem tirou a roupa em um
comício do pai. "Não sei o que posso esperar dela, mas sei que tenho de estar
preparada para qualquer loucura".
No ar em dose dupla - a atriz também é apresentadora do programa
Superbonita, do canal pago GNT - , Taís terminou neste semestre o curso
de Jornalismo. E, com os rumos que sua vida profissional tomou, comemora o fato
de servir de exemplo a vários negros do País. Tanto que, até hoje, se emociona
com os agradecimentos e o estímulo que recebe desses fãs.
"Cada porta que se abre para mim, vejo como uma oportunidade que surge para
todos os que têm a minha cor".
Confira entrevista com Taís Araújo:
Não tenho pensado muito sobre isso. Sei que posso esperar qualquer coisa dela, porque uma das primeiras cenas que gravei foi tirando a roupa em um comício do pai dela. Mas não tenho medo dessa exposição, até porque não vejo espaço para vulgaridade nesse horário. O Ricardo Waddington é um diretor elegante, requintado, não permitiria qualquer desvio aí. Mas é claro que de cara eu me toquei que ia precisar de uma preparação física para encarar esse lado sexy desse trabalho.
Não sou muito ligada nesses assuntos, tanto que nem sei quantos quilos eu perdi. Mas não vou negar que assim que eu vi o figurino e comecei a construir a Alicia, caiu a ficha de que eu precisava me controlar na alimentação porque o bicho ia pegar. Só tinham roupas curtíssimas e justas. E a Alicia é uma mulher da noite, achei que seria mais convincente se ela fosse uma daquelas magricelas, figurinhas fáceis nas boates. Depois que definimos a cara dela, com maquiagem, cabelo e roupas, surgiram os outros detalhes que construíram a personalidade e o comportamento dela.
Assim que você enxerga a carcaça de um personagem, tudo fica mais fácil. O visual ousado e provocativo fez aparecer esses traços também no jeito dela andar, falar e olhar para as pessoas. Existe um conflito forte entre ela e o pai e isso faz com que todas as suas atitudes sejam tomadas com o intuito de prejudicá-lo. É bacana porque ela não é má, mas essa revolta lhe dá características de grandes vilãs.
Em Cobras & Lagartos tinha um pouco disso também, mas acho que a Alicia foi desenhada de uma forma muito proveitosa. Essa é a terceira novela do João Emanuel Carneiro que faço, fui do elenco de todas que ele escreveu até hoje. Isso facilita os dois lados, porque ele sabe o que esperar de mim e eu entendo o que ele quer só de ler os capítulos. Se fosse um outro autor, eu poderia ficar mais preocupada com esse ritmo, mas nos entendemos muito bem e isso me dá segurança para perceber que vou dar o resultado que ele espera.
Eu não quero outra coisa da minha vida! Não, estou brincando. A verdade é que adoro trabalhar com o João. E o intervalo entre as novelas dele foi mais ou menos o mesmo que eu costumava ficar fora do ar. Já fiz trabalhos de vários outros autores e não tenho problema com nenhum deles. Mas não posso negar que está funcionando muito bem com o João. Acho que eu e ele crescemos aos poucos na emissora. E fizemos sucesso juntos, no mesmo trabalho. Isso conta. Mas tem outros autores com quem ainda tenho que trabalhar na Globo e isso não deve demorar muito para acontecer.
O Walcyr Carrasco, por exemplo. Fizemos Xica da Silva e foi um baita sucesso na Manchete. Depois disso, nós dois assinamos com a Globo mas nunca consegui estar disponível para ele. Já conversamos, sabemos que, assim que der, vamos fazer uma parceria aqui. Mas, por enquanto, não rolou.
Agora você me pegou. Eu tinha 17 anos quando tudo começou e encabeçava um elenco com mais de 60 pessoas. Achava que seria muito difícil voltar a protagonizar uma novela. E o meu futuro foi definido ali. Eu estava entrando no mercado de trabalho e nunca tinha tentado ingressar. E foi um sucesso estrondoso mesmo fora da Globo. Mexeu muito comigo porque tive de crescer como atriz e como mulher de uma hora para outra.
Não, mas essas coisas já estão mudando. Hoje acho uma grande besteira fazer protagonista. Claro que é importante valorizar os negros e ainda acontece de você só ser escalado para personagens que são negros desde a sinopse. Mas já existem personagens dramaticamente ricos para nós. Não esqueço que vivemos em um país cheio de preconceitos, mas confesso que hoje eu não abro mais a boca para falar sobre isso. A vida tem sido muito generosa comigo e acho que a melhor forma de retribuir é fazer o meu melhor. O meu sucesso abre portas para que outras negras consigam esse espaço. O Superbonita mesmo aumenta a auto-estima de toda a população negra que assiste.
Sim, demais. As pessoas me param e dizem que se sentem representadas, que eu tenho de fazer bonito para mostrar que somos iguais. E tenho noção dessa responsabilidade. Penso que quando as portas se abrem para mim, é um sinal de que elas vão se abrir mais fácil no futuro para minha prima, para meus filhos que ainda nem nasceram, enfim, para todos.
Sinto, mas já temos grandes exemplos. Acho que Duas Caras foi muito importante nesse sentido. A Sheron Menezes e a Juliana Alves fizeram um grande sucesso na novela e mostraram que essa diferenciação tem de acabar. Já estamos no caminho certo. As coisas acontecem devagar, mas pelo menos elas estão acontecendo.
Quando Taís Araújo começou a estudar teatro, aos 11 anos, seu maior sonho era ser dentista. Mas como tinha tempo livre e algumas amigas se matricularam, resolveu adotar as aulas como atividade extracurricular. E foi assim durante alguns anos, até fazer seu primeiro teste para a TV.
A Alicia de A Favorita tem uma sensualidade mais bem trabalhada do
que suas últimas personagens. Como você está lidando com essa
mudança?
Não tenho pensado muito sobre isso. Sei que posso esperar qualquer coisa dela, porque uma das primeiras cenas que gravei foi tirando a roupa em um comício do pai dela. Mas não tenho medo dessa exposição, até porque não vejo espaço para vulgaridade nesse horário. O Ricardo Waddington é um diretor elegante, requintado, não permitiria qualquer desvio aí. Mas é claro que de cara eu me toquei que ia precisar de uma preparação física para encarar esse lado sexy desse trabalho.
Que tipo de preparação?
Não sou muito ligada nesses assuntos, tanto que nem sei quantos quilos eu perdi. Mas não vou negar que assim que eu vi o figurino e comecei a construir a Alicia, caiu a ficha de que eu precisava me controlar na alimentação porque o bicho ia pegar. Só tinham roupas curtíssimas e justas. E a Alicia é uma mulher da noite, achei que seria mais convincente se ela fosse uma daquelas magricelas, figurinhas fáceis nas boates. Depois que definimos a cara dela, com maquiagem, cabelo e roupas, surgiram os outros detalhes que construíram a personalidade e o comportamento dela.
Como foi esse processo?
Assim que você enxerga a carcaça de um personagem, tudo fica mais fácil. O visual ousado e provocativo fez aparecer esses traços também no jeito dela andar, falar e olhar para as pessoas. Existe um conflito forte entre ela e o pai e isso faz com que todas as suas atitudes sejam tomadas com o intuito de prejudicá-lo. É bacana porque ela não é má, mas essa revolta lhe dá características de grandes vilãs.
O texto irônico da sua personagem e suas cenas com o Iran Malfitano e Cauã
Reymond têm um tom de comédia. É difícil dosar o drama e o humor na mesma
personagem?
Em Cobras & Lagartos tinha um pouco disso também, mas acho que a Alicia foi desenhada de uma forma muito proveitosa. Essa é a terceira novela do João Emanuel Carneiro que faço, fui do elenco de todas que ele escreveu até hoje. Isso facilita os dois lados, porque ele sabe o que esperar de mim e eu entendo o que ele quer só de ler os capítulos. Se fosse um outro autor, eu poderia ficar mais preocupada com esse ritmo, mas nos entendemos muito bem e isso me dá segurança para perceber que vou dar o resultado que ele espera.
Desde 2004, você só faz novelas do João Emanuel. Não se sente limitada com
isso?
Eu não quero outra coisa da minha vida! Não, estou brincando. A verdade é que adoro trabalhar com o João. E o intervalo entre as novelas dele foi mais ou menos o mesmo que eu costumava ficar fora do ar. Já fiz trabalhos de vários outros autores e não tenho problema com nenhum deles. Mas não posso negar que está funcionando muito bem com o João. Acho que eu e ele crescemos aos poucos na emissora. E fizemos sucesso juntos, no mesmo trabalho. Isso conta. Mas tem outros autores com quem ainda tenho que trabalhar na Globo e isso não deve demorar muito para acontecer.
Quais autores?
O Walcyr Carrasco, por exemplo. Fizemos Xica da Silva e foi um baita sucesso na Manchete. Depois disso, nós dois assinamos com a Globo mas nunca consegui estar disponível para ele. Já conversamos, sabemos que, assim que der, vamos fazer uma parceria aqui. Mas, por enquanto, não rolou.
Você já declarou várias vezes que Xica da Silva foi o trabalho da
sua vida. Ainda pensa assim?
Agora você me pegou. Eu tinha 17 anos quando tudo começou e encabeçava um elenco com mais de 60 pessoas. Achava que seria muito difícil voltar a protagonizar uma novela. E o meu futuro foi definido ali. Eu estava entrando no mercado de trabalho e nunca tinha tentado ingressar. E foi um sucesso estrondoso mesmo fora da Globo. Mexeu muito comigo porque tive de crescer como atriz e como mulher de uma hora para outra.
Você protagonizou outra novela depois, Da Cor do Pecado. Mas suas
duas protagonistas eram negras na sinopse. Incomoda não disputar vagas para
papéis principais com atrizes brancas?
Não, mas essas coisas já estão mudando. Hoje acho uma grande besteira fazer protagonista. Claro que é importante valorizar os negros e ainda acontece de você só ser escalado para personagens que são negros desde a sinopse. Mas já existem personagens dramaticamente ricos para nós. Não esqueço que vivemos em um país cheio de preconceitos, mas confesso que hoje eu não abro mais a boca para falar sobre isso. A vida tem sido muito generosa comigo e acho que a melhor forma de retribuir é fazer o meu melhor. O meu sucesso abre portas para que outras negras consigam esse espaço. O Superbonita mesmo aumenta a auto-estima de toda a população negra que assiste.
Os negros conversam com você sobre isso nas ruas?
Sim, demais. As pessoas me param e dizem que se sentem representadas, que eu tenho de fazer bonito para mostrar que somos iguais. E tenho noção dessa responsabilidade. Penso que quando as portas se abrem para mim, é um sinal de que elas vão se abrir mais fácil no futuro para minha prima, para meus filhos que ainda nem nasceram, enfim, para todos.
Você sente falta de outras atrizes negras com oportunidades como as suas
nos estúdios?
Sinto, mas já temos grandes exemplos. Acho que Duas Caras foi muito importante nesse sentido. A Sheron Menezes e a Juliana Alves fizeram um grande sucesso na novela e mostraram que essa diferenciação tem de acabar. Já estamos no caminho certo. As coisas acontecem devagar, mas pelo menos elas estão acontecendo.
Ao acaso
Quando Taís Araújo começou a estudar teatro, aos 11 anos, seu maior sonho era ser dentista. Mas como tinha tempo livre e algumas amigas se matricularam, resolveu adotar as aulas como atividade extracurricular. E foi assim durante alguns anos, até fazer seu primeiro teste para a TV.
Em 1995, garantiu sua estréia na Manchete, em Tocaia Grande, e mal
sabia que começava a definir naquele trabalho seu futuro. "Minha atuação de
estréia na TV me rendeu o papel de protagonista de Xica da Silva no ano
seguinte, em 1996", lembra a atriz.
Com o sucesso e a projeção que Xica da Silva trouxe, não demorou para
Taís ser sondada pela Globo. Tanto que já em 1997 a jovem assinou contrato com a
emissora e interpretou a ambiciosa Vivian em Anjo Mau.
Mas, para quem tinha vivido o sucesso como protagonista na concorrência, a
atriz precisou esperar algum tempo na nova casa para conseguir destaque
semelhante. Mais precisamente sete anos, quando recebeu o convite de Denise
Saraceni para interpretar a heroína de Da Cor do Pecado, de João Emanuel
Carneiro.
"Li em um jornal que a protagonista da novela seria negra, mas saí de férias
para o Chile. Quando meu pai avisou que a Denise tinha ligado, fiquei tão
ansiosa que retornei a ligação de lá mesmo", recorda.
Assim que soube que a idéia da equipe de A Favorita era deixá-la de cabelo liso e com franja, Taís Araújo não acreditou que o resultado fosse dar certo.
Cara nova
Assim que soube que a idéia da equipe de A Favorita era deixá-la de cabelo liso e com franja, Taís Araújo não acreditou que o resultado fosse dar certo.
Por isso, em dezembro do ano passado, a atriz fez a prova do visual de Alícia
e, assim que viu sua "cara nova", pediu para que não mudassem nada. Isso porque,
segundo ela, esse foi o primeiro passo da composição de Alícia.
"Adorei o resultado. E como é completamente diferente de mim, ajuda na hora
de lidar com o temperamento ousado e agressivo da personagem".
Fonte: Terra
Sem comentários:
Enviar um comentário