sábado, 11 de agosto de 2012

Taís Araújo: além da ficção

J.R. Duran


Taís Araújo posou para as fotos deste ensaio na véspera de sua festa de aniversário: estava organizando um show privado do sambista Jorge Aragão em uma cobertura em Copacabana, Zona Sul do Rio. Dias antes, havia comemorado seus 31 anos com um jantar com a família e amigos íntimos. A celebração ainda incluiu outra reunião, dessa vez com amigos do Projac, em um restaurante em Jacarepaguá (Zona Oeste). E, na sessão de fotos, a atriz teve direito a mais parabéns – ela até passou o dedo na cobertura do bolo.

Problemas em envelhecer? Aparentemente, nenhum. Razões para celebrar? Isso ela tem de sobra. Taís parece jovem demais para ter acumulado tanta experiência profissional: a mais recente conquista é ser protagonista da atual novela das oito da TV Globo, Viver a Vida. Ela é a primeira atriz negra a ocupar essa posição – assim como foi a primeira protagonista negra de uma novela cujo tema não era escravidão (Da Cor do Pecado, 2004). Agora, no papel de Helena, uma modelo bem-sucedida, tem gerado impacto nas ruas: em uma terra adepta de chapinhas e escovas, o cabelo crespo de Taís virou alvo de desejo. E ela, que a princípio achava a questão racial irrelevante na novela, hoje acredita que o trabalho gera um serviço “imensurável”.
A trajetória da atriz parece superar a ficção e desperta a curiosidade até do escritor Manoel Carlos, autor de Viver a Vida. Como ela conseguiu fazer sucesso tão jovem? Quais os pontos negativos dessa fama? Quem é Taís na intimidade? A pedido da CRIATIVA, o autor entrevistou a atriz, por email.


J.R. Duran



Manoel Carlos – Com apenas 31 anos, você já conquistou uma carreira sólida e vitoriosa. Protagonizou algumas novelas, fez teatro e cinema. Hoje, vive minha Helena mais jovem. Se tivesse de eleger um motivo para esse sucesso, qual seria?

Taís Araújo
– Tudo é resultado de muito trabalho! E, claro, uma forcinha da sorte. Pode parecer estranho, tenho 31 anos e já fiz tanta coisa... Mas é que comecei a trabalhar muito cedo [Ela iniciou a carreira de modelo aos 15 anos e estreou na TV com 17, em Tocaia Grande (1996/97)]. Não tem segredo nem milagre, é trabalho, trabalho e trabalho!

Manoel Carlos – Você se formou recentemente em jornalismo. Atuar era um sonho de criança ou você já pensou em fazer outra coisa?

Taís
Meu sonho era ser diplomata ou dentista. A carreira de atriz foi algo que foi chegando, e hoje não me imagino fazendo outra coisa. Como comecei a trabalhar muito cedo, meu pai me pediu para escolher outra profissão. Na época, fiquei em dúvida entre história e letras e achava que não ia conseguir fazer as duas. Acabei demorando dez anos para me formar em jornalismo. Como eu gostava de escrever, achei que a comunicação juntava tudo. Agora, ainda quero fazer um mestrado, voltar para faculdade de teatro... Se eu pudesse, viveria uma vida de estudante.

Manoel Carlos – Você foi para Paris e planejava ficar lá por um bom tempo. Cheguei a desistir de convidá-la, mas depois soube que você estava disponível para voltar e fazer o papel. Pretende retomar esses planos?

Taís
– Quando estava me preparando para ir a Paris, fiquei em dúvida se iria ou não, pois já existia a especulação de que eu interpretaria Helena. Como não havia certeza, toquei meus planos, mas fiz questão de ligar para você e para o [diretor] Jayme [Monjardim]. Lembra, Maneco? Minha intenção era deixar bem claro que eu estava disposta a voltar correndo de Paris para fazer Helena! Quando a novela começou, eu pensava no que faria depois. Mas neste instante não tenho capacidade de pensar em nada! O futuro? Depois eu penso em como ele será.
Manoel Carlos – Como é a Taís na intimidade?

Taís
– Acho que sou uma pessoa normal, não consigo me avaliar. Sei que priorizo minha família, meu marido [o ator Lázaro Ramos], meus amigos e meu trabalho. Tenho tentado lidar com tudo de modo tranquilo. Antes, eu era muito mais ansiosa! Acho que tenho bom humor e gosto de cultivá-lo. Às vezes, a vida é difícil, mas aprendi que temos de dar o peso correto a cada coisa. Senão, potencializamos o que é negativo, e isso toma conta da gente.
Manoel Carlos – Minhas Helenas são mulheres fortes, corajosas e que admitem cometer erros, alguns graves, em nome do amor. Como é sua relação com o amor?

Taís
– A minha relação com o amor? O que é a relação com o amor para uma pessoa absolutamente passional como sou? O amor é o que me move: o amor pela minha profissão, por meus amigos e pelo meu marido. Mas é claro que há um lado complicado...
Ser tão emocional dá um trabalho danado! A vida não pode ser apenas vivida de amor. Deve haver um equilíbrio, que eu busco diariamente.

Manoel Carlos – O fato de você ser negra não influenciou minha escolha. Entretanto, pela primeira vez temos uma atriz negra protagonizando uma novela das oito da Globo. Como você lida com essa responsabilidade?

Taís
– No início, eu achava que isso não tinha relevância. Para mim, o importante sempre foi contar a história de uma personagem. E, como você disse, o fato de Helena ser negra não foi decisivo. Só que deparei com um país que ainda precisa discutir isso e me perguntei: será que estamos realmente preparados? Acho que temos feito um serviço imensurável. Aprendi logo cedo, quando fui estudar no Colégio Anglo Americano, no Rio de Janeiro, como é o país em que vivo – eu era a única negra da escola. Espero que tudo seja tratado com maior naturalidade e sem preconceitos e que no futuro essa não seja uma polêmica necessária.


J.R. Duran

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J.R. Duran




Fonte: Criativa

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