sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

As Helenas de Manoel Carlos " Taís Araújo"


Há quem diga que a Helena vivida por Taís Araújo, em Viver a Vida, foi uma das que mais sofreram. Para Taís, interpretar a primeira Helena negra e jovem de Manoel Carlos a fortaleceu na vida pessoal.O autor queria uma atriz linda, que pudesse interpretar uma modelo internacional. Apesar do mundo de glamour que cercava a personagem, a Helena de Taís sofria tragédias na vida pessoal. Durante a sessão de fotos, realizada em sua casa no Rio, a atriz revelou que amadureceu com a experiência e que faria tudo outra vez.

Frase de Manoel Carlos




Você foi muito celebrada por ter sido a primeira Helena negra de Manoel Carlos. Para você, qual foi a importância disso?

TA: Claro que eu celebrava isso, mas na época eu trabalhava tanto e estava tão focada em fazer o trabalho bem que não tinha tempo de pensar. Hoje eu paro, penso mais friamente e vejo como foi um passo importante para a sociedade brasileira ter uma protagonista negra.

Até receber o convite, você alguma vez já tinha pensando na possibilidade de dar vida a uma das Helenas de Manoel Carlos?

TA: Nunca. Além de ser negra, a minha Helena era mais jovem também, e as Helenas anteriores foram mulheres mais maduras, nos seus 40, 50 anos. Na época que eu fiz a novela, eu tinha 30 anos. Por isso também essa ideia nem passava pela minha cabeça. Quando eu li que o Maneco tinha pensado em mim para o papel, falei para mim mesma: "Não estou acreditando que isso está acontecendo na minha vida!". E eu fui muito feliz, muito a fim de fazer, celebrando e querendo que desse certo.

Além de ser a única negra, a sua Helena se destacou também por ter uma personalidade mais diferente das anteriores. Foi dito que ela era a mais frágil e a que mais sofreu. Você concorda?

TA: A minha Helena sofreu muito, e eu mais ainda. Eu sofri a novela do início ao fim. Olhando agora, eu posso dizer muito segura que essa foi uma das personagens mais importantes, se não a mais importante da minha vida. Por tudo que ela me ensinou e que eu passei como atriz, foi a personagem que mais me transformou. Dramaturgicamente era pesado, era uma personagem muito difícil de lidar, de saber como fazer. Quando acabou a novela, eu fiquei quase um ano em suspenso, com aquela sensação de "ai meu Deus, acabou, passou". Durante a novela, recebi críticas que me fizeram acreditar que a minha carreira iria acabar naquele momento. Após 16, 17 anos de carreira, eu disse: "Vai acabar!". E nada! Foi a personagem que mais me fortaleceu. Agora que passou muito tempo, eu olho para trás e afirmo que faria de novo. Com os olhos fechados, eu passaria por todo o sofrimento. Foi uma personagem que me amadureceu, que me fez olhar de outra maneira para a minha profissão, que me fez enxergar que tinha que me reinventar.

Você se identificou com a sua Helena em algum aspecto?

TA: Zero! Não me identificava nada com a personagem. Quando começou a trama, ela já tinha alcançado tudo que queria profissionalmente. Por outro lado, ela tinha uma vida pessoal muito frágil. Naquele momento, a Helena só estava querendo ter paz e uma vida pessoal tranquila. Essa diferença entre a gente tornou o desafio ainda maior. Como atriz, ter uma personagem que você olha e fala: "Como?". Tentar resolver isso é um exercício sensacional, é muito bom.

Como você descreveria a sua Helena?

TA: Ela era uma personagem que vivia com uma culpa por causa da história da Luciana (Alinne Moraes). Por causa de uma briga, ela falou para a Luciana ir de ônibus, e não no carro com ela, e a menina sofreu um acidente e ficou tetraplégica. Além da culpa que carregava, ela era uma mulher bem frustrada. Enquanto lidava de forma muito prática com o lado profissional, ela tinha uma maneira bem frágil de lidar com as relações pessoais. É a partir daí que eu não me identifico com ela porque sou basicamente formada pelas relações pessoais que eu tenho. A Helena saiu para trabalhar cedo. Eu sou completamente apegada à minha família, não consigo ficar sem eles. A profissão é importante pra mim? É superimportante, mas ela não está à frente da minha família, nem da minha vida pessoal.

Hoje, após ser mãe, se voltasse a ser convidada para fazer uma Helena, você imaginaria uma personagem mais parecida com você, mais madura?

TA: Já parei para pensar que, se me dessem aquela Helena hoje, eu faria uma coisa completamente diferente. Faria ela mais popular, mais próxima do público. Obedeço 100% do que o autor pede para eu fazer, mas é claro que o fator da minha criação pesa, e hoje em dia está muito mais forte do que era, até por segurança profissional mesmo. O tempo vai passando, e você vai tendo cada vez mais segurança de tentar fazer diferente, arriscar mais. Com essa personagem, eu conquistei a coragem de arriscar sempre. Quando acabou a novela, falei: "Agora acabou a palhaçada! Eu vou arriscar sempre!".

Em 2011, você teve seu primeiro filho. Ter se tornado mãe mudou a forma de encarar seus papeis? Mudou de alguma forma na carreira?

TA: Mudou completamente! A maternidade muda muito a gente. Quando estava grávida, fui chamada para fazer um filme. Eu li o roteiro, mas só fomos rodar o filme quando meu filho estava com três meses. Eu pedi para ler o roteiro de novo, e era outro roteiro, meu olhar tinha mudado completamente. Essa foi a marca mais assustadora que eu tive. Assustadora no bom sentido, de como a gente muda com a maternidade e com o tempo também. Eu tenho 35 anos, e meu olhar não é o mesmo de uma menina de 20, nem de 30 anos sem filho. As prioridades mudam, o olhar sobre o mundo muda. A sensação que eu tive quando descobri que estava grávida foi a de que tudo tinha ido para o seu lugar. Hoje em dia, o que é mais importante na minha vida é a saúde e o bem-estar do meu filho. A maternidade te dá um senso de realidade, te coloca na real.

Julia Lemmertz se prepara para fazer a possível última Helena de Manoel Carlos. Que conselho ou dica você daria para ela?

TA: Como eu vou dar conselho para a Julia Lemmertz? Dá até vergonha, pelo amor de Deus! (risos) Eu quero sentar e aplaudir muito a Julia Lemmertz, de quem eu sou muito fã, uma atriz sensacional, muito sensível, muito elegante. Uma das mulheres mais elegantes desse país! Ela é uma das atrizes que mais me emocionam pela simplicidade e a verdade da atuação.

Bruna Marquezine também dará vida à Helena de Em Família, na sua fase jovem. Você tem algo a dizer para ela?

TA: Uma menina que a gente viu crescer e agora já é uma Helena! A Bruna é uma atriz talentosíssima também. Ela começou chorando muito como Salete, na novela do Maneco, e também emocionando a gente. Eu desejo muita sorte a elas. Vão trabalhar duro. Se trabalha muuuuito, mas no final dá certo, no final é bom, é muito bom.







Fonte: Globo

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